segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Prefácio

A Thaís Seganfredo, de Porto Alegre, sugeriu. A gente, muito feliz, aceitou. Então a Fernanda Taube também tá na área! Em post inspirado por texto de Luciane Glaser (link no finalzinho).



Prefácio

Hoje eu sou suja e ando vagando por aí, sozinha.
No boteco da esquina, recitei um verso de Bukowski, tomei uma cerveja barata e cantei um dó desafinado com Tom Waits.
Mas nem sempre foi assim. Eu vim de anos e anos de muito glamour. Sou da época que ser rica era sinônimo de ser chique.
Passei pela realeza, mas depois caí na boca do povo. Me reinventei e nasci de novo. Praticamente passei uma borracha no meu passado e comecei a reescrever o livro da minha vida.
A capa é linda, mas muito misteriosa; ninguém até hoje conseguiu decifrar o que nela acontece. Ela muda de tempos em tempos. Tem vez que é rosinha e cheia de flores, depois fica negra e rendada, outra hora cisma em ser gente grande e se enche de tricô.
Mas eu gosto assim. São os ciclos da minha vida, sabe.
Minha nova história teve figuras importantes, gente que é mais lembrada que eu. Acho injusto.
Me tiraram muitos bens, fui roubada, maltratada, exilada durante as guerras e voltei com tudo, mostrando minha força. Sou guerreira também, mereço meu espaço.Minha história é escrita em linhas tortas, mas confesso que reta ela não é. Já até disseram que eu sou filha do diabo, não sirvo pra nada e sou má influência. Oras, todo mundo pode ser má influência, isso depende muito mais de quem me vê do que de mim.
Da minha vida cuido eu, você é quem sabe se me ama ou se me odeia.
Aliás, eu sou assim, muitas vezes extremista. O básico e o ousado; o eterno e o efêmero.
Já me pintaram de tantas cores que eu nem me lembro mais.
Já me vestiram com tecidos de todos os lugares do mundo e experimentaram em mim as mais diversas texturas.
Eles colocam no papel alguma ideia mirabolante e acham que eu sou obrigada a ser a cobaia. Tsc.
Virei um tal de Frankenstein dos tempos modernos.
Minha vida sempre foi cheia de referências.
Não quero ser pedante, mas sou muito entendida de cinema, música, literatura. Já atuei no cinema, no teatro. Já escrevi livros e servi de inspiração para muitos músicos.
Me identifico bastante com o estilo de vida dos artistas, sempre quis ser assim.
Eu faço samba e amor a noite inteira. Amo essa vida boêmia.
Tem gente que quer me acertar, me colocar nos eixos. Bobagem.
O meu negócio é diversão, e eles não entendem.
Me moldam daqui, me criticam dali. Não ligo.
Ultimamente andam me levando a sério demais, esse é o problema.
Se estou nessa vida a passeio? De jeito nenhum!Eu quero é tocar na vida das pessoas, e fazer elas se tocarem. Mas não quero que me cobrem, eu não funciono na base da da pressão.
Comigo é assim: devargar, devagarinho.
Eu tenho mil lados, você me vê do jeito que quiser. É como entrar numa sala de espelhos e observar um de cada vez, tranquilo.
Sou absolutamente contra a futilidade, mas totalmente a favor.
Não tente me entender.
Depois de tempos de riqueza, fui sendo deixada de lado. Virei perfumaria.
Aos poucos fui ficando mais popular, o pessoal me conhece mais, mas ainda assim me sinto só.
Por essas e outras que perdi um pouco o gosto de viver, e hoje ando por aí, uma quase-mendiga que todo mundo aplaude.
Não sei bem o porquê.
Volta e meia me pedem pra eu voltar a ser o que era na juventude, mas não tem como. Eu até tento, mas geralmente não consigo.
Tudo o que posso fazer nessas horas é pegar umas fotografias e alguns baús de recordações e distribuir por aí. Mas fazer igual eu fazia? Não dá. Bem que eu queria, mas minhas costas não me autorizam.
Posso hoje estar quase idosa, quase mendiga, quase bêbada. E daí?
Você sabe, me deram o poder da imortalidade, e deixaram um pozinho mágico da juventude, mas não sei onde eu guardei.
Se por acaso você achar, me avise, tá?



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Inspiração para o Post: http://migre.me/sxhR


>>> Esse post foi publicado originalmente no blog Pretta, que a Fernanda Taube escreve desde dezembro de 2009.

VEM, GENTE!

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