sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

A chave

Você viu o post anterior sobre críticos consagrados e jovens interessados em expressar suas opiniões? A Dani Lopes, professora e estudante de Design de Moda, tinha escrito esse texto em junho de 2010 e o dividiu com o Tessituras. Sugiro que leiam o que ela diz, vejam os comentários que fizeram no blog dela e digam pra gente o que acharam. Certo? Podemos contar com vocês?





















Como é bom ter voz. Não o fonema, mas a idéia falada, o pensamento ecoado.

É triste estar mudo. Não digo o não emitir som, mas o não emitir opiniões e reflexões.


Outro dia fui a uma loja abrir crediário e eis que a atendente que preenche meu cadastro me pede REFERÊNCIAS de lojas nas quais eu já possuía crédito. Resposta: nenhuma. Era minha primeira compra - ou seria, se não me houvesse sido negada.

Meu irmão queria um novo emprego e para tal possuía todas as aptidões exigidas, exceto ela, essa porta tão difícil de abrir e cuja chave não estava em seu poder: a EXPERIÊNCIA.


Daí, li um post sobre Regina Guerreiro. Que ela entende de moda, que possui repertório fashion suficiente a ponto de lhe autorizar críticas pertinentes as quais se deve dar atenção e crédito. Respeito. Mas em seguida assisto a um vídeo de Regina a analisar desfiles da temporada e, nossa! Ela comete erros! Um deles, ao dizer que Ronaldo Fraga utilizou rendas do norte onde se devia ler nordeste. Erros pontuais, que em nada diminuem a credibilidade da profissional consagrada, mas que no mínimo me levam a refletir: há vozes aprisionadas em calabouços de cabeças pensantes que querem ecoar. Batem nas grades a fim de chamar a atenção de carcereiros que tem por guarda a chave daquela porta. E a chave tilinta nas mãos de quem já tem portas abertas...


Como ter experiência se não nos é dado experienciar? Porque não confiar a alguém que estuda o assunto, lê, pesquisa e quer continuar estudando, lendo e pesquisando, o presente da voz?

Porque, penso eu, Regina Guerreiro nem sempre foi “Regina Guerreiro”. Nem sempre teve experiência e menos ainda referências, mas conquistou a chave.

E como pode a moda, sendo assim tão farta de subjetividade, ser encapsulada numa garrafa onde se lê no rótulo uma definição, modo de usar e em letras miúdas logo abaixo, os direitos reservados? A moda não gosta de rótulos, não tem papas nem papisas. Ela não gosta de garrafas, gosta de varais e corpos ao vento. Gosta de mentes e portas abertas.

Ícones fashion são importantes balizas, mas são nossas as mãos na direção. Aprendemos e crescemos com os mais sábios, mas estou longe de assimilar a moda como uma seita onde de uma só cabeça parte as idéia para todo um grupo que, num celibato de questionamentos, acena positivamente, absorve e reproduz. Seria um suicídio coletivo. E eu não quero morrer antes de abrir a porta.


>>> Esse post foi publicado originalmente no blog Moda, Chocolate e Coca-Cola, que a Dani escreve de Presidente Prudente (SP).

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