quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Resenha: O casaco de Marx, Peter Stallybrass

"O casaco de Marx" tem sua segunda edição no Brasil, como parte da coleção Mimo da Editora Autêntica. E é um mimo mesmo: pequeno, cerca de 100 páginas, projeto gráfico simples, bem cuidado, atraente, toque sedoso.

Mas o maior mimo é a escrita de Peter Stallybrass, um estudioso da obra de Karl Marx, dono de uma narrativa envolvente e poética. Sim, um estudioso da obra de Karl Marx, pesquisador do colonialismo e da história do estado-nação, e escreveu sobre roupas. Tá bom pra você?


Stallybrass aborda algo de que raramente nos tocamos: as roupas são objetos impregnados de memória, especialmente as roupas dos nossos mortos e ausentes. O cheiro, o puído dos cotovelos, uma mancha. Discute o conceito de fetichismo na antropologia e na teoria marxista, sustentando que, ao contrário do senso comum, estamos cada vez menos materialistas, pois nos apegamos mais ao valor de troca do que aos objetos em si e as marcas que deixamos neles.

O autor estabelece também uma ponte entre o casaco do primeiro capítulo de O Capital como a forma celular da economia e o próprio casaco de Marx. Ele descreve com maestria as idas e vindas do casaco de inverno de Marx do corpo de seu dono para a casa de penhores. Mais: a posse ou não do casaco determinava o que Marx escrevia, pois ele era exigido dos homens para que frequentassem a sala de leitura do Museu Britânico, onde ele fazia suas pesquisas para O Capital. Sem o casaco, restava-lhe o jornalismo. Emblemático, não?

"O casaco de Marx" é uma leitura agradável não somente para historiadores ou estudiosos de moda. O texto de Stallybrass é recheado de referências literárias e citações de obras de Laurence Lerner, Pablo Neruda e Philip Roth. Além disso, para contextualizar traz várias curiosidades históricas, como o fato de que uma peça de roupa era mais cara do que uma peça de Shakespeare na Inglaterra Moderna.

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O Casaco de Marx: roupas, memória, dor
Peter Stallybrass
Ed. Autêntica

Imagem: Divulgação

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